sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Onde estivestes de noite
(Clarice Lispector in "Onde estivestes de noite")
Ilusão
O espelho não reflete mais minha imagem como antes.
Quem sou eu?
Procuro um rosto feliz, disfarço a dor,
finjo e escondo-me atrás de máscaras.
Solidão que me apavora!
Minha alegria se desmancha como o vento que passa e poucos percebem.
Sonhos? O que são? Onde estão?
Mundo de ilusão! Até quando!?
Paixão, desejo comedido, amores mal resolvidos.
Sentimentos indefinidos deixam-me inerte e muda.
Mundo, segurança e vida abalados e desestruturados.
Feliz com os pés no chão, impotente e fracassada com a loucura "sanada".
Preciso vomitar cada pensamento e atitude para me recompor.
Detestável criatura que sou!
Mundo de ilusão! Até quando!?
Retornar? Não posso mais.
Adiantar? Não valeria a pena.
Presente amaldiçoado!
Viverei...
Nobre colega, sábias palavras:
"Tempo efêmero. Passará? O que me resta? Desejar? Esperar?"
Disfarçar!
Mundo de ilusão! Até quando!?
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Incompleto Soneto
Apressam-se minhas palavras em te lembrar
Do breve encanto que teu olhar me encerra
O fervor dos teus beijos a me queimar
Restringindo a tortura desta espera
Senhora de tuas noites, apenas quero
Adormecer perdida no teu abraço
Aspirar todo encanto que com esmero
Oferes no aconchego do teu afago
Leva o frio inverno que em mim mora
Quando da tua ausência, solitária me vejo
Traz teu olhar que o meu sentido aflora
Entontece-me com a doçura de seu gracejo
Toma meus desejos em lençóis de cetim
Sou um incompleto soneto, rabisque em mim
"Está apaixonado"
Acontece, entretanto, que não esxiste coisa alguma que seja do tamanho do nosso amor. A nossa fome de beleza é grande demais.(...)Cedo ou tarde descobrirá que o rosto não é aquele. E a bela cena retornará à sua condição de sonho impossível da alma. E só restará a ela alimentar-se da nostalgia que rosto algum poderá satisfazer..."
(Rubem Alves)
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Carta
Estava eu a passear pelos campos e o encontrei. Não sei lhes dizer o que senti. Talvez vergonha por não ter enfrentado a situação, os seus olhos estavam lá... Pela mulher que desejei ser não teria baixado a cabeça. Isto eu não me perdoarei. Mas, esperem, por favor, não me censurem. Aproveitei uma distração dos olhares em volta e o chamei, delicadamente, para estar comigo abaixo de um Ipê. Acompanhou-me meio receoso, porém, percebi um sorriso em seus lábios. E senti medo. O que ele espera de meu coração?E o que espero do seu?
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Retrato
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
(Cecília Meireles)
Onde foi que eu me perdi??
domingo, 20 de setembro de 2009
A vida é Sonho
(A vida é sonho - Calderón de la Barca)
5 minutos
Toc, toc das pedras na janela.
Susto. Arrepio. Olhos de coruja a censurar.
Chiiii... Sussurros baixinhos. Medo de acordar.
Cordas jogadas ao relento, subindo devagar...
Olha-se no espelho e se põe a pentear, olhos negros, segredos, medo do anseio, vertigens no ar...
Na alcova o silêncio, coração a despertar. Subindo devagar...
Toque suave, mãos nas mãos, olhos no olhar, lábios molhados, corpo em chama, desejo de amar...
Despindo o vazio, cheiro do mar. Suor, beijos, frio.
O inverno chegará.
Pureza presente, a-mar...ahhh...Toques sublimes, invasão ardente, medo de suspirar.
Amanhece.
Gaivotas apontam no barco ancorado. Desejo afogado. Hora de acordar.
Se o tempo parasse!...
Ao chegar, ele a recebera tentando agir naturalmente, embora o nervosismo transparecesse em seu exterior. Estavam sós. O que fazer? Como proceder? Era a todo momento atraído e reprimido pelo olhar misterioso dela, ora mulher ora menina. E em meio ao cruzamento de olhares indefinido, o primeiro beijo.
Indescritível!... Os sentimentos oscilam. Amor, paixão, atração física apenas? O que os levaram a estarem ali? Valeria à pena correr o risco e enfrentar o mundo que espera ocioso oportunidades para condená-los? Isso era o que menos importava no momento. Que se raivem os moralistas!
Completamente envolvidos em olhares e beijos doces, audaciosos e frementes. Corações disparando, corpos em completa efervescência. E no dado instante... Pena! O tempo não pára.