segunda-feira, 21 de março de 2011

Angústia



















Hoje o dia amanheceu ainda mais belo, com um dourado esplêndido brilhando sobre as folhas verdes da mangueira de meu quintal.

O mundo em silêncio. Ouço alguns sons de pássaros a cantar, carros a trafegar e a sua voz ainda a ecoar em meu pensamento: “Mas não entendo o porquê... Se tivéssemos nos conhecido antes...”

A felicidade aflorou por alguns instantes. Alegrei-me! Mas essa angústia que teima em não me abandonar. Dor da culpa de um coração movido ao pecado, constantemente tentado a te amar.

Desmoronei... Ri e chorei tentando libertar-me dessa angústia que dilacera minha alma. Coração não-cadenciado.

Porque um lado de mim é só alegria e o outro grita na vastidão da agonia.

Quero sumir para qualquer lugar onde eu me satisfaça.


domingo, 20 de março de 2011

Imensidão

O pôr-do-sol da praia estava lindo. O sol escondendo-se no horizonte e reluzindo nas águas do mar, que cintilavam como diamantes lapidados.

A orla movimentada como todos os dias. Os carros indo e vindo. Os elevadores dos grandes prédios não cessavam. As pessoas a caminhar, correr ou pedalar pelo calçadão e aquelas que pareciam fugir de um vazio interior a penetrar os mais vis desejos de suas almas, na areia da praia, sentadas frente a imensidão.

Era assim que ela se sentia. Sentada na areia, a contemplar o belo espetáculo da natureza, dava um tempo para si mesma, para entender seus sentimentos e sua variação diária de humor. Um dia sentia-se leve como pluma, em outro, o conforto abria espaço para inconformidade e uma determinação para mudança enchia seu peito. Entretanto, naquele dia, não sabia ao certo que tipo de sentimento predominava, nem quais eram as suas reais vontades, só conseguia sentir um vazio profundo. Algo estava faltando!

Levantou-se subitamente em um impulso rápido e preciso e pôs-se a caminhar. Não suportava suas incertezas e inseguranças. Permanecer sentada e imóvel não solucionaria suas crises. Resolveu então distrair-se com as pessoas que, como ela, caminhavam sem destino certo.

Em seu lado direito a imensidão engolia o sol trazendo-lhe calma. Em sua esquerda os carros tomavam suas direções gerando um movimento e ritmo que lhe ocasionava náuseas. Passou a olhar apenas em uma direção. Seu olhar distante, profundo e penetrante parecia procurar algo no infinito. Muito ao longe ela vê um rapaz vindo ao seu encontro. Seu olhar, muito semelhante ao dela, era constante, não desviava do além.

Era um rapaz muito simpático, moreno, alto e de médio porte. A cada passo que dava na direção dela, seu sorriso expandia-se. Mostrava-se encantado com a formosura daquela mulher.

Ela caminhava a passos curtos e lentos, procurando sentir o aconchego da brisa que lhe trazia calma e expelia suas ansiedades. Vestia um traje longo florido e azulado, chapeu azul turquesa com rendas brancas e os cabelos pretos brilhantes reluzindo com o reflexo do sol nas águas do mar. Sua curiosidade aumentava a cada passo que dava em direção ao rapaz. Ainda não o reconhecera.

Quando estavam a alguns poucos passos de distância, ela consegue reconhecê-lo. Era alguém que vira duas ou três vezes no máximo e trocara algumas palavras sobre os dias quentes de verão. Ele aproximou-se e com um belo sorriso ainda mais expressivo inclinou um pouco a cabeça para o lado direito e deu-lhe um beijo pouco estralado em sua face, como já fizera outrora.

Ela fechou os olhos, não conseguia entender o que estava acontecendo. Em um instante atrás estivera tão angustiada que seu coração esteve a ponto de cessar seu ritmo e agora seu coração passa a pulsar com uma certa euforia, ainda que discreta. Depois do beijo, ela permaneceu alguns segundos imóvel tentando recobrar os sentidos. Não sabia o que dizer, até que ele quebra o silêncio:

- Olá, moça bonita!

Ela sorrir e meio sem graça responde um tímido olá.

Como por um impulso, ela vira-se um pouco em direção ao mar, não queria que ele enxergasse além dos seus olhos seus sentimentos. Sentia-se feliz agora. Ele era a única pessoa que ela gostaria que estivesse ali naquele instante.

De repente ela percebe algumas nuvens tomar conta do céu e o azul vai dando lugar a escuridão. Um vento forte e frio começa a soprar causando um certo arrepio e pavor. Então ela exclama:

- Vai chover!

E ao virar o rosto na direção do jovem moço nota que ele não está lá. Nunca estivera.

A chuva começa a cair e ali ela permanece até o novo raiar do dia. Solitária frente à imensidão.