domingo, 12 de setembro de 2010

Always


Naquela tarde faria a mais alta maré dos últimos 5 anos.

Fiz de tudo para apressar-me, afinal havia perdido tantos dias sem a sua presença... Como eu poderia supor que encontro assim seria possível, um dia? Pensei em esperar-lhe na praia como se nada houvéssemos planejado... Recitei um ou dois poemas e decidi não elogiá-la “- Como estais bela!” Soaria ridículo, típico de um arrependido. Como se eu nunca tivesse percebido suas feições.
Aproximava-se e um sorriso surgiu, abaixara seus olhos como se já não houvesse incendiado os meus. Não sei explicar-lhe por qual sentimento fui inundado, mas inundado é sim a verdadeira palavra.
Abracei-a e beijei-a onde era permitido.

“- Como estais bela!” – Sorriu. Ainda mais graciosa que antes, guardando as lembranças para mim mesmo.
- Demorei?
- Não, não. Cheguei um pouco mais cedo. O bastante para ver as ondas. Tu sabes, não é, que hoje está fazendo a mais alta maré dos últimos 5 anos?
- Exatos anos que não te vejo...
Contou-me um pouco sobre a vida. Com o que ocupava suas horas. Falou-me do trabalho, da universidade, das artes marciais e do hipismo ...
- Sonhei contigo outra noite, antes de te convidar para este encontro.
- Encontro? – sorriu.
- Bem... – balancei a cabeça.
- Como foi o sonho?
- Acho melhor não te contar...
- Nossa... Foi tão ruim assim?
- Pelo contrário! – Insistiu ao ponto que não pude mais calar.
- Estávamos em minha casa... E você me esperava em...em meu quarto.
- Continue.
- É... a noite foi maravilhosa. – Imaginei se esta noite tivesse acontecido. Nossa primeira vez. Aquela que nunca se concretizara.
- Nossa. – Permaneceu em silêncio com um sorriso contido, fitando as ondas.

Caminhamos um pouco. Falamos sobre casamento, viagens e sonhos. Ela parecia tão crescida, contida, sensata. Impressionei-me e temi todos aqueles anos passados.

- Pensas em casar? – questionei-a.
- Às vezes.
- Fico pensando. Você sabe que se casar ele será o último homem de sua vida, não é?
- Não. Não havia pensado nisto.
Comprei-lhe uma água de coco e ela prometeu pagar-me um sorvete em outra oportunidade. Reclamou que estava velho, mas não quis trocar comigo, fingindo saborear o caldo aguado. Sentamos em meio às árvores.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Porque não me procuraste depois de tudo? Bem, eu... Mesmo por tudo que te fiz esperava uma reação mais intensa. Um tapa na cara, talvez.
- Eu? Eu não iria atrás de ti. Você havia errado. Para mim a sua confissão dizia-me que não me amavas mais. Por que eu iria insistir em algo que não era mais meu? Não faz sentido. Eu queria te ver feliz. Por isto fui embora.
- Sabe eu... Eu temi este encontro. Tive receios de não me conter.
- De não se conter? – interrogou-me.
- De te beijar. – Abaixou a cabeça, mas não consegui encontrar sorriso algum. – Eu era tão novo, sabe. E o nosso relacionamento havia ficado tão sério. Eu tinha medo de perder os momentos. Até que percebi que eu não perdi nada a não ser você.
- Passaram-se 5 anos... – ela me olhou e levou-me junto em suas lembranças.
- Eu esperei uma palavra, uma desculpa. E você me esperava também. E assim passaram-se 5 anos.

A música que havia lhe dedicado finalmente fazia sentido:

“It's been raining since you left me
Now I'm drowning in the flood
You see I've always been a fighter
But without you I give up…”

Levantou-se e se afastou bruscamente. Continuei sentado olhando-a. Voltou-se para mim e meu coração disparou quando senti o cheiro de seu abdômen roçar o meu rosto. Seria aquele o momento onde tudo seria revisto. Não importava nada mais, não importava as horas, eu a teria outra vez...

Beijou-me e sussurrou-me triste.

...


Naquela noite cinco estrelas alinharam-se ao leste...

Meu corpo todo tremia. Sentado, perto da praia, ele me esperava. Fingi no primeiro momento não reconhecê-lo. Talvez isto doesse um pouco. Como se o tempo tivesse apagado mais que sentimentos... Infelizmente, deixei escapar um sorriso assim que me aproximei. Seus olhos não eram algo que eu pudesse ignorar.
Abraçou-me e beijou-me no mínimo formal.

“- Como estais bela!”- elogiou-me em seguida.
- Demorei?
- Não, não. Cheguei um pouco mais cedo. O bastante para ver as ondas. Tu sabes, não é, que hoje está fazendo a mais alta maré dos últimos 5 anos? – questionou-me como se quisesse disfarçar uma suposta inquietação.
- Exatos anos que não te vejo...

Conversamos um pouco sobre o cotidiano. Com o que ocupavas suas horas. Falou-me dos projetos, da família, do sonho de aviação e do veleiro.

- Já comprou os salva-vidas? Sabes que temo um pouco o oceano. – brinquei.
- Não deixaria que nada lhe acontecesse...
- Sonhei contigo outra noite, antes de te convidar para este encontro. – cortou-me o olhar de suas últimas palavras. Sabia que não havia cumprido suas promessas.
- Encontro? – indaguei para deixá-lo sem graça. Suas bochechas geralmente ficavam vermelhas.
- Como foi o sonho?
- Acho melhor não te contar...
- Nossa... Foi tão ruim assim? – quis desafiá-lo para que me revelasse o fato.
- Pelo contrário!
- Estávamos em minha casa... E você me esperava em...em meu quarto.
- Continue. – instiguei-o interessada.
- É... a noite foi maravilhosa.

Lembrei daquele dia, na cozinha, nossos corpos tocando desajeitadamente, pela primeira vez. Poucos momentos tivemos. Uma única oportunidade que fora perdida. Dei-me conta de meus pensamentos e temi qualquer postura de melancolia, mas pegou-me fitando as ondas, absorta.
Caminhamos um pouco. Ele pareceu-me diferente. Diferente daquele menino que havia conhecido tantos anos atrás. Era outro, mais simples, mais vivido, mais intenso e menos sensato. Era um homem.

- Você sabe que se casar ele será o último homem de sua vida, não é? – interrogou-me enquanto conversávamos.
- Não. Não havia pensado nisto. – Mas, pensei. Bem mais em seu contexto que na decodificação de suas palavras. Por que ele perguntava-me aquilo? Queria lembrar-me que o casamento nos separaria para sempre? Como se já não houvesse passado 5 anos...
Sentamos em meio às árvores. Anoitecia.
- Posso te fazer uma pergunta? – questionou-me.
- Claro. – respondi segura. Mas era tudo fingimento.
- Porque não me procuraste depois de tudo? Bem, eu... Mesmo por tudo que te fiz esperava uma reação mais intensa. Um tapa na cara, talvez.

Fiquei um pouco surpresa com suas palavras. Afinal, isto não era nenhum segredo. Ele havia errado. Eu apenas o deixei ir. - Respondi.

- Sabe eu... Eu temi este encontro. Tive receios de não me conter.
- De não se conter? – interroguei-o
- De te beijar. – Abaixei a cabeça, pois eu sentira o mesmo. Mas, na verdade, o medo estava mais pelas conseqüências dos sentimentos.
- Eu era tão novo, sabe... Até que percebi que eu não perdi nada a não ser você.

Escutei cada palavra. Era tudo o que eu desejava ter escutado.

- Você foi o meu primeiro amor. – comentei.
- Eu queria ser o último.
- Passaram-se 5 anos... – lembrei de todos os nosso momentos, até ali.
Ambos esperamos. Mas, nenhum dos dois fora corajoso o suficiente para tentar de novo. O tempo caiu por entre os dedos...

Naquela manhã, anos atrás, ao fim das aulas. Escutamos a nossa música e ela fazia mais sentido agora...

“Now your pictures that you left behind
Are just memories of a different life
Some that made us laugh
Some that made us cry
One that made you have to say good bye”

Levantei- me o mais rápido possível evitando qualquer aproximação. Ele continuara sentado, mas não fitei suas feições. Pensei se jogaria tudo ao alto e o beijaria como naquela manhã, se valeria amá-lo outra vez. Reviver aqueles dias interrompidos...
Eu sabia que ainda o amava, sabia que jamais poderia esquecê-lo e que mesmo na dor ele me provara que o amor era para sempre.

Abracei-o ainda sentado e sabia que ele ainda continuava a espera de algo meu. Beijei os seus cabelos em meu último adeus.

- Passou tanto tempo... - as minhas lágrimas o umedeceram - Mas, eu sei que enquanto eu viver, você estará em meus pensamentos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maioridade

O cheiro do café inundava o ambiente.

“Segurar; Fixar; Assentar; Fundar... Firmar!?

Firmar!? – Isso. – sussurrei aliviada

Aprontei-me, rapidamente, eram quase duas da tarde e a hora se aproximava.

A blusa era de uma brancura quase transparente, receio de demonstrar qualquer impureza na alma... Pois tudo o que é mais justo ele havia me ensinado no decorrer daqueles 20 anos. Os cabelos pendiam no alto, estilo professora de 2º grau; usava uma saia comportada, mas curta o suficiente para as lembranças das primeiras dores, das primeiras cicatrizes...

Lembrara-se ao ouvir os seus passos na escada, do dia em que colocou-me com todo cuidado em seus braços e levou-me ao hospital...

- Luxação de patela – dissera o médico.

- Você vai melhorar – Não sabia que lutava tão bem! Mais um minuto em pé e você acertava ela!

Ainda na maca escutei quando o chamaram:

- Ela não poderá lutar mais. Rompeu os ligamentos e torceu o joelho esquerdo. Vai precisar de cirurgia!

- Ela vai lutar, sim ! – sussurrou em seguida.

Vi o orgulho em seus olhos. Quisera, então, parecer o máximo segura, adulta e inteligente possível, naquele momento.

- Pai?! Queria lhe falar algo...

- Vai sair? – respondeu com indiferença.

- Não, não...

- É que... Eu estava conversando com Victor e ele falou que gostaria... Hum... queria FIRMAR um compromisso comigo...

Seus olhos fitaram-me quase sem demora. Era o mesmo olhar que vi, naquele clássico há tantos anos atrás.

Um time, de pouca importância, ganhava de 2x0 para o Esporte Clube e sua expressão desafiava qualquer pobre torcedor que ousasse contrariar seu sangue rubi. Após este jogo o Verdão enfrentaria o Cruzeiro e a minha animação era maio que o seu desânimo. Contando os minutos para o fim do jogo. Após 15, sem sucesso, pegou-me pela mão e afastou-me da multidão enlouquecida.

- Pai...? O Palmeiras agora! – meus olhos reluziam a luz dos holofotes. Sorte minha não serem castanhos. Ele esperou um pouco, contorceu os lábios e disse:

- Eles estão fazendo uma boa temporada, mas a revanche no Espinheiro vai ser boa! – gargalhou enquanto alguns jovens se afastavam. O juiz apitava o início do primeiro tempo.

Sabia que momentos assim não voltariam. Eu havia crescido. E pagaria pelos meus ingressos desta vez.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Um dia

"Um dia descobrimos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem.
Você não só não esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia nós percebemos que as mulheres têm instinto "caçador" e fazem qualquer homem sofrer...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificado como "bonzinho" não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"...
Um dia percebemos que somos muito importantes para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia percebemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais...
Enfim...
Um dia descobrimos que apesar de viver quase um século esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para beijarmos todas as bocas que nos atraem, para dizer o que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com as faltas de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.


(Mário Quintana)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O fruto

Semente sem planta...
B-r-o-t-a-m-e-n-t-o...
Direto da raiz nasce a busca
Fruto proibido...
Direto à boca...
A uva
À vulva.

Maçã que se devora,
Mas, jamais...
...se acaba.

(Dezwith Barros)

domingo, 13 de junho de 2010

Saudades de um Defunto

A minha testa de hoje em diante é lápide,
Onde o pior poeta escreverá à talhes:
Aqui jaz um homem morto,
Mesmo vivo,
À andar e à falar,
à chorar e à gritar.

Ao nos encontrarmos
você sorrirá.
Eu acenarei da minha cova
Repleta de flores naturais
Regada direto na raiz, por minha lágrimas.

Sem se decompor...
Condenado à ser Zumbi
Permanecerei...
E acenarei para ti de minha cova
Com meu frio grito, abafado e mudo
Lembrarei em nostalgia, aquelas horas
Em que o nada entre nós dois
virava tudo.

Ah!Minha pérola negra, doce dama
Te imploro em desespero
E humilhado pranto,
Que após uma semana, um mês, um ano
Mesmo quando não sentires mais dores,
Vistas negros trajes
E mande flores.


(Dezwith Barros)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Indelével



O que me amedronta
não é o desvario que é içado
por minhas fantasias,
mas a incompletude das inconstâncias.
Apavora-me a confiança inerte
que alimenta de fastio
o dia seguinte,
por conta do arrebatador que se ausenta
no tempo perdido.
Não temo a vida
e o seu montante bravio.
Mas, o cuidado desmedido
com a miudeza que permite
a sentença negada.
Não me intimida o delírio
que sugestiona a medida do insólito.
Insulso o trajeto delineado,
os passos seguros,
por caminhos alinhados.
Roubando as cores do prisma,
dos minutos, do dia...
Eu escolho o inusitado perigo das curvas,
que no segundo seguinte...
Tudo muda.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Reencontro

Queridas amigas,

Foi muito bom ter encontrado-as hoje, de forma inesperada e para fins outros, isso acabou renovando-me e fazendo-me perceber o significado da amizade. A amizade é uma planta imortal, pois mesmo quando vem a morrer visivelmente aos olhos humanos, parte de sua raiz continua a viver esperando bom tempo para uma nova brotagem. Isso ocorre mesmo que os elementos responsáveis por mater-lhe a vida se distanciem ou aplique-lhe uma dosagem incoveniente para a sua sobrevivência: o sol queime suas folhas com um teor de calor provocado pelas altas temperaturas do stress diário; a chuva caia constantemente, sem tréguas, afogando-a em poças de lamentações; a terra tranforme-se em enormes pedregulhos de rancor e o vento passe a soprar em outros horizontes.

Esse encontro, embora curto, foi bastante significativo para mim, especialmente por ver Emília. Ah, Emília, quanto vigor e delicadeza, tão bela e tão cheia de vida! Em outros tempos, o que seria de mim sem a sua alegria? Meus lamentos por suas emoções mal resolvidas (e qual o ser humano que não as têm?) e minhas felicitações por tê-la novamente em nosso meio.

Queridas amigas, em nome da nossa amizade sinto a necessidade de padir-lhes perdão. Perdão pelas palavras ditas, reprimidas e incompreendidas; perdão pelas alegrias e tristezas; presença e ausência; pelos gestos indevidos nos momentos oportunos. Vocês são para mim sinônimo de confiança! E por falar em confiança, perdão mais uma vez por ficar em falta ou possui-la em demasia. O tipo de relação que pretendo ou ao menos gostaria de ter com vocês não é superficial, mas eterna conforme as nossas forças. E acreditem, com a pouca força que temos somos capazes de alcançar o infinito!

Abraços,

Lúcia

domingo, 21 de março de 2010

odassaP

Hoje, 22 de fevereiro de um ano qualquer, estou eu aqui, sentada na velha cadeira da varanda com o "Desassossego" nas mãos, perfurando as células imagéticas, como a chuva a terra fofa, dos meus vinte e tantos anos.

Vinte e tantos anos e um álbum de registros ainda tão insignificantes para alguns e quase inalcançável para os que acabam de nascer. Expressividade incontrolada, personalidade duvidosa. Vinte e tantos anos de felicidade com o pouco e infelicidade por quase nada. Muitos erros, inperceptíveis acertos. Vinte e tantos anos que se acabam com essa dor que se alastra e percorre as artérias de minha existência, rompendo-as com a insenção fria e irredutível.

Ah, se eu tivesse uma nova chance para viver! Certamente veria o mundo com outros olhos e saberia dar mais valor as coisas que passa sem o mundo perceber: minha mãe seria o ser mais precioso da terra com quem manteria uma relação sem conflitos; teria mais tempo para os amigos, o que não me permitiria ter dúvidas se ainda os tenho hoje; passaria mais tempo a observar o mar, o cantar dos pássaros, um belo dia de sol ou a chuva a brotar a terra, um sorriso de uma criança; o alguém especial que hoje compõe minha vida ganharia destaque e o amor palpitaria sem fim ou dúvidas; Deus...

Pena que a vida não volta atrás, mas suas cicatrizes permanecem presentes em cada segundo do futuro, sempre rodeadas por abrutes que esperam ansiosos uma reabertura das feridas.

Intricado recomeço!...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Somos história (Ele)

Somos história
Ainda não contada,
Letras apenas,
Escritas dia após dia.

Uma máscara polida
Empoeirada páira,
Dentro de nossas cabeças,
Retorcendo-se sob ira e paixão.

Vivemos a guerra
De fazer o que precisamos,
As várias idéias contradizem-se,
Digladiando e pintando nossos sonhos.

Pouco a pouco morremos,
Somos vencidos pela rotina.
Deitar a tarde e dormir plenamente
Torna-se um sonho feliz.

E assim destrói-se
A natureza humana, o talento!
Descansamos sob relva e sob sombra.
Criatividade abandonada ao relento.

Vou vivendo a procura
De um beijo sequinho,
Lábio macio,
Selva intrigante em cada gesto.

Quero brotar o meu raciocínio,
Instigando-o na sensualidade inocente
Com pitada de tarde poente,
E cheiro de terra molhada.

(Sérgio Filho)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Não te deixes...

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e plante roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que ao de vir.
Esta fonte é para o uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves o seu uso
a aos que tem sede.

(Cora Coralina)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Setembro




Maldito, visão que odeio

Do egoísmo mais que bélico
Em tu repousa o meu anseio
Meu piedoso veneno benéfico

Dia raro aquele minuto que vi
Tão perto quanto a um passo
Do acaso à setembro, fim
De igual valor é o descompasso

Sublime descrição da ternura
Impenetrável redenção do amor
Se fácil fosse como eu gostaria
Não trarias felicidade, ó dor

Se eu ganhar-te com um beijo
Conscientemente eu saberia
Por não dominar meu desejo
Ao ganhar-te eu me perdia.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Metade... (Ele)

Teu sorriso é brisa leve
Que alivia esta vida,
Tua pele quente contagia...
Tão macia tão bonita.

Quando penso em você
Pára o tempo e a existência,
Perco o rumo por viver
Com você na consciência

Toda via é preciso
Que tu saibas minha dor.
Ser humano e não de ferro,
Sofro o silêncio do amor.

Em silêncio absoluto
Guardarei com muito medo,
Pois te amo e não consigo
Revelar este segredo.

(Sérgio Filho ao Chá das Qu4tro)

domingo, 24 de janeiro de 2010

Nosso Chá das Qu4tro



Queridas,


Há muito não as vejo e já não sei o que se passa. Os dias no campo são tranquilos e as férias de verão deixaram-me absorta em meus romances que já se tornaram desculpa para aquietar este coração ansioso. Mas, a cada página lida meus desejos clamam pelas presenças de minhas doces companheiras.

Minhas tardes são preenchidas com Valete em longos passeios e terminam com a leitura de um livro sentada, no balanço, da velha casa abandonada da família Quilson. Algumas noites jantares são oferecidos à novidade desta pequena cidade. Imaginem todas as minhas forças, para agradar meu avô, na presença de tantos olhares ambiciosos?

Não sei se o melhor seria voltar...Por mais que tanto deseje vê-las. Entretanto, a corte não parece-me o lugar ideal, agora. Preciso estar um pouco mais aqui, longe de tudo, longe de todo o ano que passou. Vocês precisam ver o amanhecer entre estas montanhas é tão belo e inunda-me de vida a cada instante.

Troquei os chapéus pelos cabelos soltos e um pouco mais curtos que foram censurados, em princípio, pelo meu avô que depois se desmanchou em um largo sorriso e falou-me:

"- Menina tola... Perdeu teus cachos!"

Sentirei falta de sua gargalhada virtuosa, mas muitos dias ainda chegarão. Tanto para realizar, tanto a contar-lhes de sonhos, o quanto diferente me encontro e o que aprendi no silêncio. Em alguns meses nos veremos e retomaremos o nosso Chá das Qa4tro... Escureceu um pouco e nem passa das cinco... Acho que se aproxima uma chuva de verão.

Preciso levar Valete ao estábulo...

Abraço-lhes com toda a minha força,

Aurélia.