Fiz de tudo para apressar-me, afinal havia perdido tantos dias sem a sua presença... Como eu poderia supor que encontro assim seria possível, um dia? Pensei em esperar-lhe na praia como se nada houvéssemos planejado... Recitei um ou dois poemas e decidi não elogiá-la “- Como estais bela!” Soaria ridículo, típico de um arrependido. Como se eu nunca tivesse percebido suas feições.
Aproximava-se e um sorriso surgiu, abaixara seus olhos como se já não houvesse incendiado os meus. Não sei explicar-lhe por qual sentimento fui inundado, mas inundado é sim a verdadeira palavra.
Abracei-a e beijei-a onde era permitido.
“- Como estais bela!” – Sorriu. Ainda mais graciosa que antes, guardando as lembranças para mim mesmo.
- Demorei?
- Não, não. Cheguei um pouco mais cedo. O bastante para ver as ondas. Tu sabes, não é, que hoje está fazendo a mais alta maré dos últimos 5 anos?
- Exatos anos que não te vejo...
Contou-me um pouco sobre a vida. Com o que ocupava suas horas. Falou-me do trabalho, da universidade, das artes marciais e do hipismo ...
- Sonhei contigo outra noite, antes de te convidar para este encontro.
- Encontro? – sorriu.
- Bem... – balancei a cabeça.
- Como foi o sonho?
- Acho melhor não te contar...
- Nossa... Foi tão ruim assim?
- Pelo contrário! – Insistiu ao ponto que não pude mais calar.
- Estávamos em minha casa... E você me esperava em...em meu quarto.
- Continue.
- É... a noite foi maravilhosa. – Imaginei se esta noite tivesse acontecido. Nossa primeira vez. Aquela que nunca se concretizara.
- Nossa. – Permaneceu em silêncio com um sorriso contido, fitando as ondas.
Caminhamos um pouco. Falamos sobre casamento, viagens e sonhos. Ela parecia tão crescida, contida, sensata. Impressionei-me e temi todos aqueles anos passados.
- Pensas em casar? – questionei-a.
- Às vezes.
- Fico pensando. Você sabe que se casar ele será o último homem de sua vida, não é?
- Não. Não havia pensado nisto.
Comprei-lhe uma água de coco e ela prometeu pagar-me um sorvete em outra oportunidade. Reclamou que estava velho, mas não quis trocar comigo, fingindo saborear o caldo aguado. Sentamos em meio às árvores.
- Posso te fazer uma pergunta?
- Claro.
- Porque não me procuraste depois de tudo? Bem, eu... Mesmo por tudo que te fiz esperava uma reação mais intensa. Um tapa na cara, talvez.
- Eu? Eu não iria atrás de ti. Você havia errado. Para mim a sua confissão dizia-me que não me amavas mais. Por que eu iria insistir em algo que não era mais meu? Não faz sentido. Eu queria te ver feliz. Por isto fui embora.
- Sabe eu... Eu temi este encontro. Tive receios de não me conter.
- De não se conter? – interrogou-me.
- De te beijar. – Abaixou a cabeça, mas não consegui encontrar sorriso algum. – Eu era tão novo, sabe. E o nosso relacionamento havia ficado tão sério. Eu tinha medo de perder os momentos. Até que percebi que eu não perdi nada a não ser você.
- Passaram-se 5 anos... – ela me olhou e levou-me junto em suas lembranças.
- Eu esperei uma palavra, uma desculpa. E você me esperava também. E assim passaram-se 5 anos.
A música que havia lhe dedicado finalmente fazia sentido:
“It's been raining since you left me
Now I'm drowning in the flood
You see I've always been a fighter
But without you I give up…”
Levantou-se e se afastou bruscamente. Continuei sentado olhando-a. Voltou-se para mim e meu coração disparou quando senti o cheiro de seu abdômen roçar o meu rosto. Seria aquele o momento onde tudo seria revisto. Não importava nada mais, não importava as horas, eu a teria outra vez...
Beijou-me e sussurrou-me triste.
Naquela noite cinco estrelas alinharam-se ao leste...
Meu corpo todo tremia. Sentado, perto da praia, ele me esperava. Fingi no primeiro momento não reconhecê-lo. Talvez isto doesse um pouco. Como se o tempo tivesse apagado mais que sentimentos... Infelizmente, deixei escapar um sorriso assim que me aproximei. Seus olhos não eram algo que eu pudesse ignorar.
Abraçou-me e beijou-me no mínimo formal.
“- Como estais bela!”- elogiou-me em seguida.
- Demorei?
- Não, não. Cheguei um pouco mais cedo. O bastante para ver as ondas. Tu sabes, não é, que hoje está fazendo a mais alta maré dos últimos 5 anos? – questionou-me como se quisesse disfarçar uma suposta inquietação.
- Exatos anos que não te vejo...
Conversamos um pouco sobre o cotidiano. Com o que ocupavas suas horas. Falou-me dos projetos, da família, do sonho de aviação e do veleiro.
- Já comprou os salva-vidas? Sabes que temo um pouco o oceano. – brinquei.
- Não deixaria que nada lhe acontecesse...
- Sonhei contigo outra noite, antes de te convidar para este encontro. – cortou-me o olhar de suas últimas palavras. Sabia que não havia cumprido suas promessas.
- Encontro? – indaguei para deixá-lo sem graça. Suas bochechas geralmente ficavam vermelhas.
- Como foi o sonho?
- Acho melhor não te contar...
- Nossa... Foi tão ruim assim? – quis desafiá-lo para que me revelasse o fato.
- Pelo contrário!
- Estávamos em minha casa... E você me esperava em...em meu quarto.
- Continue. – instiguei-o interessada.
- É... a noite foi maravilhosa.
Lembrei daquele dia, na cozinha, nossos corpos tocando desajeitadamente, pela primeira vez. Poucos momentos tivemos. Uma única oportunidade que fora perdida. Dei-me conta de meus pensamentos e temi qualquer postura de melancolia, mas pegou-me fitando as ondas, absorta.
Caminhamos um pouco. Ele pareceu-me diferente. Diferente daquele menino que havia conhecido tantos anos atrás. Era outro, mais simples, mais vivido, mais intenso e menos sensato. Era um homem.
- Você sabe que se casar ele será o último homem de sua vida, não é? – interrogou-me enquanto conversávamos.
- Não. Não havia pensado nisto. – Mas, pensei. Bem mais em seu contexto que na decodificação de suas palavras. Por que ele perguntava-me aquilo? Queria lembrar-me que o casamento nos separaria para sempre? Como se já não houvesse passado 5 anos...
Sentamos em meio às árvores. Anoitecia.
- Posso te fazer uma pergunta? – questionou-me.
- Claro. – respondi segura. Mas era tudo fingimento.
- Porque não me procuraste depois de tudo? Bem, eu... Mesmo por tudo que te fiz esperava uma reação mais intensa. Um tapa na cara, talvez.
Fiquei um pouco surpresa com suas palavras. Afinal, isto não era nenhum segredo. Ele havia errado. Eu apenas o deixei ir. - Respondi.
- Sabe eu... Eu temi este encontro. Tive receios de não me conter.
- De não se conter? – interroguei-o
- De te beijar. – Abaixei a cabeça, pois eu sentira o mesmo. Mas, na verdade, o medo estava mais pelas conseqüências dos sentimentos.
- Eu era tão novo, sabe... Até que percebi que eu não perdi nada a não ser você.
Escutei cada palavra. Era tudo o que eu desejava ter escutado.
- Você foi o meu primeiro amor. – comentei.
- Eu queria ser o último.
- Passaram-se 5 anos... – lembrei de todos os nosso momentos, até ali.
Ambos esperamos. Mas, nenhum dos dois fora corajoso o suficiente para tentar de novo. O tempo caiu por entre os dedos...
Naquela manhã, anos atrás, ao fim das aulas. Escutamos a nossa música e ela fazia mais sentido agora...
“Now your pictures that you left behind
Are just memories of a different life
Some that made us laugh
Some that made us cry
One that made you have to say good bye”
Levantei- me o mais rápido possível evitando qualquer aproximação. Ele continuara sentado, mas não fitei suas feições. Pensei se jogaria tudo ao alto e o beijaria como naquela manhã, se valeria amá-lo outra vez. Reviver aqueles dias interrompidos...
Eu sabia que ainda o amava, sabia que jamais poderia esquecê-lo e que mesmo na dor ele me provara que o amor era para sempre.
Abracei-o ainda sentado e sabia que ele ainda continuava a espera de algo meu. Beijei os seus cabelos em meu último adeus.
- Passou tanto tempo... - as minhas lágrimas o umedeceram - Mas, eu sei que enquanto eu viver, você estará em meus pensamentos.