O cheiro do café inundava o ambiente.
“Segurar; Fixar; Assentar; Fundar... Firmar!?
Firmar!? – Isso. – sussurrei aliviada
Aprontei-me, rapidamente, eram quase duas da tarde e a hora se aproximava.
A blusa era de uma brancura quase transparente, receio de demonstrar qualquer impureza na alma... Pois tudo o que é mais justo ele havia me ensinado no decorrer daqueles 20 anos. Os cabelos pendiam no alto, estilo professora de 2º grau; usava uma saia comportada, mas curta o suficiente para as lembranças das primeiras dores, das primeiras cicatrizes...
Lembrara-se ao ouvir os seus passos na escada, do dia em que colocou-me com todo cuidado em seus braços e levou-me ao hospital...
- Luxação de patela – dissera o médico.
- Você vai melhorar – Não sabia que lutava tão bem! Mais um minuto em pé e você acertava ela!
Ainda na maca escutei quando o chamaram:
- Ela não poderá lutar mais. Rompeu os ligamentos e torceu o joelho esquerdo. Vai precisar de cirurgia!
- Ela vai lutar, sim ! – sussurrou em seguida.
Vi o orgulho em seus olhos. Quisera, então, parecer o máximo segura, adulta e inteligente possível, naquele momento.
- Pai?! Queria lhe falar algo...
- Vai sair? – respondeu com indiferença.
- Não, não...
- É que... Eu estava conversando com Victor e ele falou que gostaria... Hum... queria FIRMAR um compromisso comigo...
Seus olhos fitaram-me quase sem demora. Era o mesmo olhar que vi, naquele clássico há tantos anos atrás.
Um time, de pouca importância, ganhava de 2x0 para o Esporte Clube e sua expressão desafiava qualquer pobre torcedor que ousasse contrariar seu sangue rubi. Após este jogo o Verdão enfrentaria o Cruzeiro e a minha animação era maio que o seu desânimo. Contando os minutos para o fim do jogo. Após 15, sem sucesso, pegou-me pela mão e afastou-me da multidão enlouquecida.
- Pai...? O Palmeiras agora! – meus olhos reluziam a luz dos holofotes. Sorte minha não serem castanhos. Ele esperou um pouco, contorceu os lábios e disse:
- Eles estão fazendo uma boa temporada, mas a revanche no Espinheiro vai ser boa! – gargalhou enquanto alguns jovens se afastavam. O juiz apitava o início do primeiro tempo.
Sabia que momentos assim não voltariam. Eu havia crescido. E pagaria pelos meus ingressos desta vez.
3 comentários:
Gostei do Design.
Parabéns.
Gostei muito da forma como vc cria situações de expectativas e descreve detalhadamente o ambiente onde se passa as cenas, dando assim a nós a imaginar perfetamente como tudo ocorreu!
Muito interessante como a personagem amadurece depois de enfrentar uma situação complexa em sua vida, isso nos mostra a diversidade de amadurecermos independente de quaisquer situação!
lindo conto, adorei!
Obrigada, Ju..
Fico feliz que você goste de nossos escritos!
beijos
Postar um comentário