sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Maioridade

O cheiro do café inundava o ambiente.

“Segurar; Fixar; Assentar; Fundar... Firmar!?

Firmar!? – Isso. – sussurrei aliviada

Aprontei-me, rapidamente, eram quase duas da tarde e a hora se aproximava.

A blusa era de uma brancura quase transparente, receio de demonstrar qualquer impureza na alma... Pois tudo o que é mais justo ele havia me ensinado no decorrer daqueles 20 anos. Os cabelos pendiam no alto, estilo professora de 2º grau; usava uma saia comportada, mas curta o suficiente para as lembranças das primeiras dores, das primeiras cicatrizes...

Lembrara-se ao ouvir os seus passos na escada, do dia em que colocou-me com todo cuidado em seus braços e levou-me ao hospital...

- Luxação de patela – dissera o médico.

- Você vai melhorar – Não sabia que lutava tão bem! Mais um minuto em pé e você acertava ela!

Ainda na maca escutei quando o chamaram:

- Ela não poderá lutar mais. Rompeu os ligamentos e torceu o joelho esquerdo. Vai precisar de cirurgia!

- Ela vai lutar, sim ! – sussurrou em seguida.

Vi o orgulho em seus olhos. Quisera, então, parecer o máximo segura, adulta e inteligente possível, naquele momento.

- Pai?! Queria lhe falar algo...

- Vai sair? – respondeu com indiferença.

- Não, não...

- É que... Eu estava conversando com Victor e ele falou que gostaria... Hum... queria FIRMAR um compromisso comigo...

Seus olhos fitaram-me quase sem demora. Era o mesmo olhar que vi, naquele clássico há tantos anos atrás.

Um time, de pouca importância, ganhava de 2x0 para o Esporte Clube e sua expressão desafiava qualquer pobre torcedor que ousasse contrariar seu sangue rubi. Após este jogo o Verdão enfrentaria o Cruzeiro e a minha animação era maio que o seu desânimo. Contando os minutos para o fim do jogo. Após 15, sem sucesso, pegou-me pela mão e afastou-me da multidão enlouquecida.

- Pai...? O Palmeiras agora! – meus olhos reluziam a luz dos holofotes. Sorte minha não serem castanhos. Ele esperou um pouco, contorceu os lábios e disse:

- Eles estão fazendo uma boa temporada, mas a revanche no Espinheiro vai ser boa! – gargalhou enquanto alguns jovens se afastavam. O juiz apitava o início do primeiro tempo.

Sabia que momentos assim não voltariam. Eu havia crescido. E pagaria pelos meus ingressos desta vez.

3 comentários:

Unknown disse...

Gostei do Design.
Parabéns.

Unknown disse...

Gostei muito da forma como vc cria situações de expectativas e descreve detalhadamente o ambiente onde se passa as cenas, dando assim a nós a imaginar perfetamente como tudo ocorreu!
Muito interessante como a personagem amadurece depois de enfrentar uma situação complexa em sua vida, isso nos mostra a diversidade de amadurecermos independente de quaisquer situação!
lindo conto, adorei!

Gabryelle disse...

Obrigada, Ju..

Fico feliz que você goste de nossos escritos!

beijos

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