quarta-feira, 20 de março de 2013


Havia em torno de nós e dentro de nós alguma coisa da qual não me é possível entender, coisa pesada, uma sensação de sufocamento e, sobretudo, aquela terrível solidão que alguns experimentam quando estão rodeados de amigos e mesmo assim estão sós.
Os móveis da sala, a mesa posta, os copos em que bebíamos, tudo em seu lugar exceto ele que há pouco saiu de cabeça baixa. Fatigado pela minha presença, acredito. Eu não tive coragem. Assumi mais uma vez que fracassei, que não fui cuidadosa com a gente? Que a vida por mais que eu tente me impõe escolhas. Não sei o que aconteceu.
Alguém espia pela janela, olha pra mim, lá, só nós dois, mas não me vê. Tomaram uma, duas, três... “A nós!”, ele disse. E eu ali esperando, mas não me oferecem nenhum gole. Quando eu pus as mãos, ele recolheu com violência, com raiva, eu acho, de quê? Estavam todos ali. Lambeu a última gota em seus lábios.
Tocá-lo? Já não causa o mesmo efeito. Não sei o que aconteceu. Adormeci sentada, num canto escuro, com um cheiro forte de suor. Não era meu. Não passavam das 2 horas da madrugada. Busquei, em silêncio, uma caixa vazia de lembranças, nada achei .
Na sala, algumas velas ainda acesas, meus sentidos mais vivos, mas as faculdades do pensamento um pouco adormecidas. Perdi. Perdi tudo aquilo. Perdemos tudo aquilo que chamamos de "nós". Eu fui esquecendo, sabe... Foi tudo rápido demais, intenso demais, forte demais.
E, tremendo um instante entre as cortinas do quarto, me mostrou afinal sobre a superfície da mesa. Mas a sombra era escura, vaga, informe, não era sombra de ninguém que eu conhecia, mas eu fui me lembrando, sabe... O cheiro de suor era tão grande, estava escuro, árvores altas, um corpo sobre o meu, minhas roupas em pedaços e depois nada. Eu fui esquecendo, sabe... primeiro os momentos, depois os sentimentos e, por fim, a vida.
Eu simplesmente esqueci que a morte consumiu, primeiro meus dedos, que costumavam tocá-lo a face antes de dormir, depois meus olhos, que choravam todas as vezes que ele não tinha certeza e, logo após a boca, já cheia de areia. Não tem luz, nem ninguém me chama. Eu não sei mais por onde voltar, os caminhos marcados com doces, alguém comeu. E depois, se foi.

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