segunda-feira, 18 de junho de 2012

Ata em três Atos


  1. André achou que eu não existia...

Durante uma aula de Tópicos Especiais em Literatura que nada tinha de teoria literária, que pouco continha de alunos, que não possuía tempo determinado; o professor Sérgio sugere que os “gatos pingados” da turma conhecessem os novos e os velhos autores paraibanos, entre eles: Antônio Mariano, Leo Barbosa, Rinaldo de Fernandes, Astier Basílio... A empolgação da turma foi agradável até que foi solicitado um relatório semanal da produção dos escritores. Detalhe: eles não estão no Wikipédia.  Num desses dias, sem a mínima criatividade, devolvi meu relatório com um poema:

O que me amedronta
não é o desvario que é içado
por minhas fantasias,
mas, a incompletude
das inconstâncias.

Apavora-me a confiança inerte
que alimenta de fastio
o dia seguinte,
por conta do arrebatador que se ausenta
no tempo perdido.

Não temo a vida
E o seu montante bravio.
Mas, o cuidado desmedido
com a miudeza que permite
a sentença negada.

Não me intimida o delírio
que sugestiona a medida do insólito.
Insulso o trajeto delineado,
os passos seguros,
por caminhos alinhados.
Roubando as cores do prisma,
Dos minutos do dia...

Eu escolho o inusitado perigo das curvas,
Que no segundo seguinte,
Tudo muda.

Título: indelével.
No outro dia, o professor me chama:
Entre alguns comentários: “- Você conhece o clube do conto?”

  1. André achou que eu era mentira...

- Oi André, eu vi seu nome no blog do Clube e queria saber se sábado vai ter encontro, consegui seu número!
- Oi Gabriela, tudo bem? Vai sim, nos encontramos no Shopping Sul às 18h. Você vai!?
- Estarei lá!

Primeira tentativa: A chuva na cidade deixa milhares de desabrigados. Ônibus parados, impedindo cerca de mil mangabeirenses de sair de suas casas. Previsão de chuva em toda a região até passar a frente fria. Cuidado: possíveis granitos na região dos Bancários.

Segunda tentativa: -Como que eu vou aparecer lá?! – Oi, eu me chamo Gaby... Vocês são do clube do conto? É que eu vi um bocado de cadernos e canecas de café!!! Desculpe foi engano, parecia... Naquele dia, fizera a mais alta maré nos últimos 7 anos e 5 estrelas alinharam-se no céu. Soube dias depois, que o grupo havia se reunido às 17:30 e se dispersaram às 19:00 horas.

Terceira tentativa: Tive preguiça!

  1. Eu fui e André faltou.

Subi a rampa o mais rápido possível, já passavam das 17:45h, dei uma volta e nada... Passei os olhos pela praça de alimentação e lá estava um grupo: óculos, livros, folhas...Suspeitei, em princípio,  que eram aqueles a quem eu procurava. GEO, verifiquei na farda. Voltei para frente do banheiro e esperei qualquer um que tivesse em mãos um livro. Enfim, um senhor com folhas... Não era bem um livro, mas eu ia tentar. Questionei-o: - Oi, és do clube do conto? – O senhor respondeu: - Clube, que clube?! – entre sorrisos – somos um grupo anárquico. Encontrei! - Suspirei aliviada. Carlos Cartaxo era o seu nome. Aos poucos, outros sujeitos anárquicos surgiram, conheci: Sérgio, Jéssica, Norma e Romarta (fiquei com uma imensa curiosidade de saber se ela jogava bem futebol). Laudelino estava em Recife e achei que André não existia.
Foram lidos dois contos, o início de outro e um texto que não sabíamos se era fábula ou crônica mais que começava assim: “Sempre tive medo de vaca...” Apresentei-me e contei esta epopeia (agora, sem acento), fiquei encarregada de ajudar Vivi (que ainda não existia) com a correção do livro a ser publicado, outros se apresentaram... Discutimos os contos, rimos e ri de novo da mesma piada do Frei. Lembrei agorinha, ri novamente.
Tema do próximo sábado: Humor.
Foi aniversário de Norma dias passados, então, fomos ao Açaí e o assunto ficou mais sério: trabalho infantil, política, greve na UFPB e eu pensando como danado ia fazer essa ata. Até então, eu só havia feito ata de fiscalização e o tal do Nada consta. Pagamos a conta, subimos a rua e aos poucos, os poucos sumiram...

Clube do Conto.

domingo, 10 de junho de 2012

Agradecimentos



Listar nomes, entidades, pessoas, coisas, objetos, ou seja lá o que for, sempre é injustiça com alguém. Todo sentimento de gratidão se inicia pelo tradicional, que se torna trivial a partir do momento que o temos por obrigação. Há sempre o “agradeço a Deus, a painho, mainha... parentes e ‘aderentes’”, mas, ao final de cada etapa, mais novas coisas eram vistas e sentidas a cada curva, estas foram sinuosas, perigosas, que traziam aflição e tão logo nos aliviava. Nessas curvas houve muitos monstros – interiores e exteriores – que tiveram de ser enfrentados. Em uma tão árdua caminhada fomos regidos por forças que nos levaram a lugares nunca d’antes navegados, mas para que sejas nosso “oh mar!”, tivemos que passar além da dor e do desafio dos monstros que nos espreitavam.
O primeiro dos monstros talvez tenha sido o: “Você vai ser professora?!”, que tantos disseram e tanto me assustou e me fez refletir: “Sim, vou ser!”. Foi só a primeira e primeira pequena vitória, tecida dentro de mim, quase me senti uma gladiadora. Houve o medo do: “Vou ser competente?!”, tão poderoso quanto o anterior, e tão mais comum. Este foi vencido também internamente, quando me armei do: “Vou dar o meu melhor!” Vencidas essas e outras incipientes batalhas prossegui, vislumbrava ao longe mais algumas feras, reais ou apenas pintadas, uma delas era: “Os professores medusiáticos” que quase conseguiram me desfalecer e me fazer estátua. Também vencidos com minhas artimanhas de espelhos, só para exemplificar uma batalha externa. Então se percebe que agradeço a todos que me atrapalharam e tornaram meu sonho em meu desafio.
Não intento com isso deixar de lado o tradicional, voltemos ao clichê: sou grata aos que me ajudaram, aos que foram só platéia e aos que foram essenciais. A Deus pelo suporte de misericórdia renovado a cada manhã, aos pais pela geração intra e extra útero, aos irmãos pela presença, aos amigos sempre presentes, constantes ou não, aos professores-motivação, aos professores-instigadores, aos professores-acadêmicos, e principalmente aos professores-educadores. Agradeço a todas as situações criadas ou predeterminadas, que me trouxeram até aqui.

Ayanne Mayelle e Aryostennes Ferreira

sábado, 2 de junho de 2012

Colibri no Cottage


Percebi que estava sendo observado. Ele estava lá, junto aos candelabros-de-ouro que ornamentavam o ambiente. Indiferente ao burburinho, à brusca rapidez nas passadas dos garçons e clientes. Parecia confuso, no entanto, concentrado. Espiava-me de forma natural, sutilmente. Já havia perdido o foco na leitura, sentindo-me intimidado, mudei de cadeira. Ele não hesitou e fez o mesmo, acompanhou minha atitude e mudou de lugar. Desta vez introduziu-se entre os camarões vermelhos. Não sabia o que queria comigo, nem poderia falar com ele, com certeza o assustaria.

Havia seis janelas laterais que se estendiam do piso ao teto. Eram intercaladas por paredes de eucalipto, aliás, todo o Cottage Café fora construído com madeira de eucalipto, o ambiente era rústico; porém aconchegante, alegre. As janelas eram voltadas para um jardim repleto de brincos-de-princesa,camarões-vermelhos, candelabros-de-ouro. Apesar de todas essas flores atraírem o pequeno colibri azul, ele se recusava a namorá-las, negava-lhes seus doces beijos. Preferia observar-me, esquecia-se de extrair o doce néctar de suas amadas.

Pedi a moça mais um cappuccino. Tentei continuar a leitura. Foi inútil. Seus minúsculos olhos fitavam-me incansavelmente, intimavam-me a contemplar sua beleza. Era admirável. Sua estrutura era dotada de uma harmonia singular, seus tons de azul fariam inveja a mais bela turmalina. Fiquei surpreso ao constatar que ele se aproximava da janela em frente à minha mesa. Em um rápido compasso bailava no ar, de um lado a outro da janela parecia pedir-me para entrar. Fiquei um bom tempo observando-o e pensando no que eu faria. Não resisti, mesmo com receio, empurrei a janela deixando-a entreaberta.Sentei novamente.

Durante alguns instantes titubeou, mas logo entendeu meu gesto. Entrou, sobrevoou minha mesa e pousou nela. Olhou-me mais ainda, encarou-me de tal forma que parecia querer extrair de mim uma confissão, fazer-me revelar algum segredo. Seus negros e pequeninos olhos estavam estáticos. Fiquei extasiado ao vê-lo de perto. Aquela perfeita criatura era mais que um simples animal, tinha personalidade. Não parávamos de nos olhar um nos olhos do outro. Foi um momento único. Parados, admirávamos a vida refletida nos olhares que se cruzavam. A liberdade, a naturalidade, a simplicidade, a leveza, a singularidade, a ânsia pela vida, expressos no olhar do colibri. Em contrapartida, a vida que mais parece uma prisão, a pluralidade existencialista, a monotonia, as aparências, o fétido orgulho do meu ser, o tempo que castiga a existência inerte, características de uma vida marcadas em meu olhar.

Após me fazer ver isso, me deixou. Bateu suas graciosas asas, abandonou-me. Naquela noite vi mais que um lindo colibri. Vi a vida como deveria ser, vi a vida simples, natural, que esqueci de viver. Vi a mim mesmo nos olhos do colibri, uma imagem deturpada, corroída, construída pelo tempo, pela sociedade, pela selvageria racional dos homens. Levantei, cancelei o café, paguei a conta. Retirei-me do ambiente que acabara de me proporcionar uma magnífica experiência. Lá fora vi pela última vez o colibri azul. Acenei, agradeci. Fomos embora.

Ismael Fernandes

sábado, 26 de maio de 2012

4


Éramos quatro...
Uma se foi, montou na garupa de um motoqueiro que a fazia bem.
Outra, tonou-se dois, repartiu-se, casou...
A terceira seguiu, meteu o pé  e disse que aguentava.
E eu, nesta vida desgarrada,
seguindo amando...
com minhas promessas
desfeitas.